sexta-feira, 8 de junho de 2018

Uma vida que vale a pena: parte 3 - escolhas

Ontem terminei de assistir um seriado na internet chamado "A Casa de Papel" que, de pano de fundo, usa o roubo/ sequestro de cinco dias à Casa da Moeda espanhola. São duas temporadas de capítulos intensos, nos quais desde o início, você se vê torcendo pelo bando que se mete a fazer o roubo que seria considerado o maior do século, chegando perto da casa de um bilhão de euros.
Deixando de lado as cenas emocionantes, os momentos de agitação e perseguição, os inúmeros detalhes do plano que é imaginado e depois executado, os imprevistos, as mudanças e alterações de curso da coisa como um todo, e claro, o episódio final que é em si mesmo um excelente teste cardíaco (comparável à finais de campeonatos de futebol importantes para os mais apaixonados), o seriado traz algumas discussões em relação ao que é certo e o que é errado (e principalmente o que costuma, pra nós, ficar naquela zona cinzenta onde não se tem muita certeza sobre o assunto). E é sobre isso que estive pensando.
Considerando o seriado de início, qual era a vida que valia a pena ser vivida nos primeiros episódios: a da investigadora, que tinha um trabalho super estressante que consumia praticamente a sua vida, e que no ambito pessoal tinha uma vida completamente complicada, com uma mãe que ela não sabia que é doente (a mãe dá sinais discretos de que tem um problema severo de memória mas a moça, como não está em casa o suficiente, não percebe em momento algum), com uma filha que quase não vê e cuja guarda está prestes a perder para o ex-marido, com quem tem uma disputa por conta de abusos físicos e psicológicos? Ou a vida do chefe do bando, que é alguém que viveu metade da vida no hospital, e nesse tempo ficou planejando o maior roubo da história, como uma espécie de homenagem ao seu pai que, por julgar não ter oportunidades, acabou entrando no mundo do crime para bancar o tratamento do seu filho doente? Será que seria a vida do diretor da Casa da Moeda, um homem casado há mais de vinte anos com uma mulher que ele não se divorcia mas não sabe como tratar bem ou reconhecer, visto que inicia um caso com a secretária do seu trabalho, e quando a engravida, renega a criança e mostra realmente como ele é covarde? Que vida fazia mais sentido antes do roubo? Difícil definir...
Não falo aqui de valor no sentido de tentar julgar quem merecia estar vivo (porque todos mereciam, ou ninguém merecia, já que são todos pecadores em algum sentido), mas digo em relação a chegar ao final e, de algum modo, ver que o resultado valeu a pena... E depois, quem será que chegou no fim e pôde dizer que estava satisfeito com a vida que viveu?
Não vou definir aqui e nem dar opiniões ou respostas prontas, mas fico pensando que por tantas vezes, à distância, uma vida parece perfeita, mas olhando mais de perto, fica tão fácil enxergar as diversas coisinhas que são condenáveis, ou que parecem absurdas, ou ainda que nos escandalizam ou nos fazem corar... mas, o que teríamos feito no lugar daquela pessoa? E depois de sabermos mais sobre o outro, o que decidimos fazer: julgar (e obviamente condenar) aquela pessoa pelo que vimos (afinal todo mundo tem pelo menos uma coisa condenável), ou usar de Graça e simplesmente amar a pessoa, não fingindo que ela é perfeita mas, encarando que como ela, temos os nossos defeitos, e tratando-a como gostaríamos que fossemos tratados?
Ou seja, para tornar a nossa vida em uma vida que vale a pena, como levar adiante as relações quando as feridas, as dificuldades e os defeitos aparecem (e às vezes gritam de modo insurdecedor) de modo que a nossa vida valha a pena ser vivida? Como quero me ver no meu leito de morte e como quero ser lembrada quando eu não estiver mais aqui?
Eu escolho (embora possa demorar ainda um bom tanto para que isso seja visível) a Graça, o Amor, a gentileza, o doar-me, o seguir em frente, o viver intensamente as relações do modo mais ético e mais puro possível. Se o outro não me corresponder, não tenho culpa; se o outro me frustrar, ajusto as expectativas e vou adiante. Eu escolho ser a minha melhor versão de mim, em Amor, independente de como o outro decida agir ou reagir diante da pessoa que escolho ser.

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