sexta-feira, 5 de outubro de 2018

O mundo mágico de uma canção

Ainda usando a música, ontem eu estava andando de noite, quando me deparei com um rapaz tocando violão e cantando na noite, no meio da rua, como se não houvesse um amanhã, procurando ganhar o seu pão com a sua arte. E aquilo me chamou atenção... não que isso não seja comum por aqui: aliás, o que mais tem no centro é esse tipo de artista, mas por alguma razão diferente, ontem, fiquei capturada com a cena por quase meia hora (inclusive quase perdi o meu trem de volta para casa, mas valeu a pena).
Quando eu parei, ele estava tocando uma música que nem me lembro bem se eu conheço ou não, mas o fato é que o estilo que ele escolheu me atrai, e quando vi, lá estava eu olhando para aquele rapaz, junto com outras pessoas na rua, já procurando se aquecer nos seus casacos no início desse outono, mas ao mesmo tempo, aquecidos com a música que vinha daquela caixa de som no meio da rua, reverberando com certa potência a intenção do moço de fazer e compartilhar a sua arte.
E aquilo me fez pensar... como me alegra a música! Assim como as lindas histórias de amor (não necessariamente de romance), de afeto, compreensão, superação e conquista, a música me conquista, me prende, me faz entrar num mundo que é mais meu do que de qualquer outro, e é como se tudo aquilo fosse, por um instante, mesmo que algo público, fosse também algo privado, ou reservado só para mim e para quem executa a canção, porque é como se de algum modo nos conectássemos através do som e de tudo o que se está propondo transmitir ali. Só que, claro, foi ótimo, mas na prática, quase perdi o trem, e sinceramente, ficar de noite no centro sem poder voltar para casa por não ter meios de transporte, de verdade não é algo sábio ou muito sadio.
E assim às vezes são os relacionamentos: eles nos encantam, nos absorvem de modo tão mágico, nos encantam, nos fazem entrar em um mundo que parece só nosso, algo tão maravilhoso, tão agradável... mas na prática, é preciso sabedoria para entender até que ponto não se está perdendo a noção do tempo ao redor com o risco de perder o trem da vida que não para um segundo...
Pausas na vida, assim como nas partituras, são necessárias. O lance é saber qual é o tempo de cada uma delas, e como fazer para começá-las e para encerrá-las. Pausas são sim algo sábio, e precisamos estabelecê-las, antes que elas decidam por nós quando acontecerão, nos pegando desprevinidos e eventualmente trazendo danos.
Mas voltando à música (ou à vida, ou ambos, não sei), uma vez imersa naquele mundo, tive vontade de compartilhar com quem eu amo, e claro, decidi filmar e mandar um pouquinho do que eu estava vendo/ ouvindo/ sentindo. E naquele momento, eu inclui pessoas que são tão importantes para mim naquele espetáculo que não era mais só do moço, ou só mais meu, mas agora era nosso... e como é bom poder compartilhar alegrias com quem se ama, não é mesmo?
Vendo aquele cara tocar, fiquei pensando não só no quanto eu mesma me sinto bem com a música, mas também comecei a pensar no quanto faz sentido ouvir apenas um instrumento tocando, ou apenas uma voz. Claro que o individual tem a sua beleza, e claro que um instrumento mal usado traz um sofrimento auditivo que é difícil de tolerar, mas parece (pelo menos pra mim) que quando existe mais de um elemento na execução (seja um instrumento de corda e uma voz, como o caso de ontem, por exemplo), a música fica mais preenchida, o som mais rico, o ambiente mais completo, a alma mais feliz. Mesmo que seja uma coisa super simples, como ontem, parece que já é o suficiente para que a música possa ser considerada em certo modo completa. E foi inevitável ver o quanto, para mim, os relacionamentos pessoais, privados e profundos são importantes. Mesmo os mais simples, os mais inusitados, os mais cotidianos... mas são esses mesmos que, conforme o tempo passa, se percebe o quanto são realmente bons. Porque uma música incrível que a gente só consegue ouvir uma vez pode ser boa, mas genial é aquela que nunca sai da sua cabeça e do seu coração.
Por fim, fiquei esperando que o moço tocasse uma determinada canção, que infelizmente ele não tocou. E eu fiquei primeiro pensando se ele já a teria tocado, ou se não a saberia tocar, ou por que motivo ela não tinha sido tocada naquele intervalo de tempo... até que pensei (isso já indo embora) que eu poderia ter perguntado a ele se seria possível nos fazer ouvir aquela música no momento... e isso me lembra que, muitas vezes, eu tenho expectativas, às vezes de coisas simples, e não comunico, não penso sobre o assunto, não pergunto e no fim, até era uma coisa super simples de resolver, e a pessoa poderia ter feito aquilo sem problemas... desde que eu não esperasse dela poderes de adivinhação que obviamente ela não tem... :D
É... a música definitivamente me está capturando nestes dias... me tem feito refletir, ir adiante, entrar num mundo mágico mas ao mesmo tempo me trazido à realidade... e tem me trazido uma gratidão ao coração, simplesmente porque Deus a criou, e podemos usufruir dela, seja pelo prazer da sensação de a termos em nossas vidas, seja usando-a como instrumento de aprendizado e paralelo com tantas outras coisas belas que Ele fez.

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