Como eu nasci e cresci numa família na qual a cultura sempre foi algo muito presente, em vários momentos na minha infância me deparei com a música, e por vezes tentei aprender a tocar algum instrumento. O primeiro (eu acho, pelo menos pensando agora é o que me lembro) foi o violão... foi uma frustração: meus dedinhos não acompanhavam a dinâmica da coisa e a minha disciplina, tão limitada quanto os meus dedos (fazendo par com a minha breve paciência) me impediram de treinar e treinar até que algum som razoável fosse extraído do instrumento. E claro, eu parei! Depois, quando eu já era adolescente, tentei duas coisas: a bateria, que eu amo até hoje, e sei que se me dispusesse a aprender de verdade teria todas as condições para ser razoável, e o teclado, que eu aprendi até que bastante coisa, mas pela falta de prática, acabei esquecendo boa parte.
Bom, com todas essas incursões e tentativas com a música (sem falar obviamente do canto, que me acompanha desde sempre e continua sendo aquilo que musicalmente eu faço de melhor, além de ouvir a música), me fizeram aprender uma série de pequenas coisas muito poderosas, que carrego comigo até hoje. A primeira delas foi conhecer um pouco de partitura, e isso me ajudou a entender que, dentro de um planejamento, cada coisa tem o seu espaço e o seu tempo (não que praticar isso seja exatamente a coisa mais fácil do mundo para mim, mas o conceito pelo menos ficou introjetado). A outra é que com sete notas (ou seja, algo que em princípio parece limitadíssimo), é possível fazer bilhões de sons mágicos, uma vez que bem combinados. Mas teve uma que foi pra mim acho que a mais chocante, e ao mesmo tempo, a que mais ficou clara e a que procuro praticar com mais frequência: um bom músico tem que ter a capacidade de isolar o barulho em volta para escutar aquilo que ele mesmo está produzindo e ao mesmo tempo tem que ser treinado para ouvir o ambiente, e com isso entender como se encaixar na dinâmica da banda. Simples? Nem um pouco... mas muito real na música e na vida.
Como eu aprendi isso? Bom, na minha primeira aula de teclado (que na verdade, nos primeiros meses foi mesmo uma experiência viva de musicalização, musicalidade e música), quando entrei, me deparei com um galpão enorme com várias pessoas tocando instrumentos diferentes e procurando produzir sons e músicas diferentes... e achei aquilo simplesmente um absurdo, e claro, perguntei se seriam ali as aulas... e a resposta me convenceu: "imagina um músico que não sabe se ouvir dentro de uma orquestra... como ele faria para saber se o que ele está fazendo está de acordo ou não? Claro, se ele é o único que desafina, é fácil notar... mas e durante os ensaios, enquanto nem tudo é tão perfeitinho assim? Então, uma das primeiras lições da nossa escola é fazer o aluno aprender a usar a concentração, de modo que ele possa isolar o ambiente e seguir com o que está fazendo, independente do que está ao redor. Depois disso, será muito mais simples se inserir em uma banda, já que, com o exercício de isolar os elementos, o aluno aprende também a identificar cada som e pode entender em que momento e como se encaixar naquela banda, naquela música e naquela situação". E isso era muito mais valioso do que eu poderia, naquele momento, no auge dos meus 12 anos, entender.
Tenho aprendido que na grande maioria dos momentos existirão sons, vozes, opiniões, barulhos e ruídos ao redor. E tenho entendido que cabe a mim procurar isolar dentro da minha cabeça o que é meu e o que é de fora, de modo que eu consiga avaliar com calma e entender o que de fato eu sou, penso e acredito, e o que é na verdade só repetição do que eu tenho ouvido no meio em que estou inserida (que nem sempre está alinhado com o que realmente a gente é, pensa ou crê). Ou seja, não adianta querer que os outros se calem, ou que as pessoas simplesmente parem de tentar te convencer de alguma coisa... o que acontece é que elas são livres para falar do que elas quiserem, e eu tenho que ter a tranquilidade (que não é naturalmente minha mas que me está acessível através da ação e do fruto do Espírito Santo na minha vida) para analisar cada discurso, situação e contexto comparando-o com o que está dentro de mim e com o que a Biblia diz, e com isso, saber para onde me movimentar ou como agir.
Por outro lado, se eu só faço esse exercício de ser fiel a mim mesma (que é necessário), e não consigo avaliar o contexto em que vivo para entender como inserir quem eu sou no contexto atual, algo pode tender a dar muito errado. Quando nós e o contexto estamos de acordo, é ótimo, mas quando não estamos... aí que nasce a oportunidade: mudamos nós, buscamos provocar uma mudança no contexto ou mudamos nós de contexto? E isso o Espírito Santo é mestre: guiar-nos para abraçar a melhor opção que se apresenta para nós.
Sem saber como se portar em um contexto, como saber qual é o modo adequado de lidar com o outro? Sem entender a banda, como entrar no ritmo da música ou ajustar o seu volume, de modo a harmonizar o que você faz com o restante do grupo? Quem toca sozinho não precisa se preocupar com isso, mas... quem é que quer ficar sozinho o tempo todo? Quem é que aguenta ou deseja de verdade uma vida de solidão, sem um par, sem alguém para compartilhar, para dividir, para aprender e relaxar? E quem é que quer se sentir só mesmo com tanta gente ao redor (fruto normalmente de estar em um contexto que não tem nada a ver com a sua situação do momento)? Se Deus nos criou para sermos seres que se relacionam, a carreira solo na música pode durar, mas na vida, não vai muito longe, e pode ser muito mais complicada do que estar dentro de uma boa banda.
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