sábado, 23 de março de 2019

Para sonharmos o novo, o velho precisa acabar

Assistindo um filme chamado "Talento e Fé" eu ouvi o pregador do Evangelho contando um pouco da sua vida para um jogador de futebol americano negro ao final de um treino. Na época em que se passava a história (que conta um pouco sobre a segregação racial e os problemas decorrentes do racismo nos Estados Unidos na década de 70), ainda existiam ônibus exclusivos para negros, e a maioria das escolas também era assim. E aquela era uma escola que estava, apesar de toda uma pressão contra, tentando obter sucesso na integração entre alunos brancos e negros, apesar de enfrentar conflitos constantes e ser alvo de críticas e disputas. Inclusive, apesar de ter jogadores negros no time, eles não eram chamados para entrar em campo, por conta do contexto, e não importava o que aconteceria, sempre haviam brigas na torcida por conta disso.
O fato é que esse pregador do Evangelho, que um dia pede ao treinador uma oportunidade de falar ao time, consegue em uma situação inusitada o seu espaço, e faz uma pregação de uma hora (ao invés dos cinco minutos concedidos inicialmente) e praticamente todo o time se converte. Dali em diante, o pregador passa a ter acesso ao time e começa a influenciar os rapazes na vida cotidiana.
Naquele momento, o pregador contava ao rapaz que ele era aficionado por beisebol mas que, por um acidente de trabalho, havia perdido um pedaço do seu pé, e isso o deixou manco, o que fez com que ele não pudesse mais sonhar com a carreira esportiva que sempre quis desde a infância. Então, quando o jogador se solidariza com a perda do pregador, ele diz que "às vezes, para sonharmos o novo, o sonho velho tem que acabar". E isso me fez parar e refletir.
A Bíblia fala que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus e caminham debaixo do Seu propósito. Sendo assim, e aplicando isso ao pregador, de fato a perda do pedaço do pé, por mais triste que possa ter sido (afinal de contas aposentar um sonho de vida quando jovem não é fácil, ainda mais em um país que valoriza tanto o esporte e a performance), esse evento fez com que ele se concentrasse em outras coisas, e sua vida foi direcionada para a pregação do Evangelho. Certamente, pra quem vê de fora e não conhece Jesus, parece uma loucura, mas pra quem sabe do que se trata, como o próprio apóstolo Paulo falou, aquilo que era lucro transformou-se em perda por causa da grandeza do Evangelho.
Então, muitas vezes coisas acontecem na nossa vida que a gente não entende, e por tanto tempo ficamos tentando manter viva a vaquinha leiteira velha e doente que nos sustentou até aqui. E mesmo sabendo que ela morrerá, fazemos de tudo para evitar que isso aconteça. O que nos foge de vista é exatamente isso que o pregador disse: se não deixarmos o velho morrer, agradecendo pelo que foi e reconhecendo que ele foi importante até aqui mas não nos levará adiante, como conseguiremos seguir para a próxima etapa?
Uma pessoa só consegue ter alguns poucos objetivos na vida por vez. Muita coisa junta paralisa e mata, porque é impossível de gerenciar. Então, quando uma determinada situação chega ao fim, precisamos reconhecer que ela acabou, e se permitimos à Deus que Ele nos ajude a crer que o melhor virá, então o novo sonho trará nova esperança, nova alegria, novo vinho. De fato, nao é possível misturar vinho novo com vinho velho... Eles não podem conviver no mesmo odre. No fim, acaba que estraga os dois e você perde tudo tentando conservar algo que já se foi.
Não sei como termina o filme. Eu parei ele no ponto em que estava para registrar essa reflexão. Mas sei que historicamente, a integração entre brancos e negros é uma realidade, e muitos jovens não só nos Estados Unidos mas no mundo hoje podem praticar esportes em times diversos porque um dia alguém sonhou e foi além no seu sonho. E também, porque alguém pôde reconhecer a hora de deixar o sonho inicial de lado e abriu espaço para o sonho maior vindo de Deus, que é novo, traz satisfação e muda uma geração.

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