segunda-feira, 24 de junho de 2019

Mudando as estações

Há mais ou menos um ano eu tive a certeza de que o meu tempo na Itália estava no fim. De fato, por muitos motivos, eu via que o meu coração ainda não estava pronto para aceitar o fato de que em breve surgiriam novas grandes mudanças, mas o meu espírito já percebia que ali não era mais o meu lugar. O curioso de quando acaba uma estação da vida é que não tem alguém que aparece necessariamente com uma placa gritando pra você que o tempo virou, que a estação se foi e que agora é hora de fazer outra coisa. Na verdade, você vai sentindo que, sem dramas e sem tristezas, as coisas vão se encerrando e aos poucos você não cabe mais naquele contexto que antes era tão seu. Um colega, um trabalho, uma casa, uma vizinhança, um grupo de convívio... Tudo isso vai mudando, e você vai mudando também, mas em uma direção ligeiramente diferente. É como se, em algum ponto da trajetória, aquelas duas retas se desencontrassem e deixassem de ser paralelas, formando um minúsculo ângulo inicial, mas que com o passar do tempo vai se tornando cada vez mais visível, até que é absolutamente impossível ignorar que os caminhos a serem seguidos não se alinharão mais. Quando vem uma grande mudança na sua vida porque é o momento de ir adiante proposto por Deus, as coisas vão se encerrando, as relações vão se fortalecendo, os ciclos vão sendo concluídos em paz e harmonia, e de repente você está ali só esperando o dia do novo começo. Sim, eu sei que soa um pouco melancólico mas na realidade pode ser também, dependendo da sua visão, bastante animador. Alguém que está acostumado em ver pedras no caminho, verá esse momento como um outono; quem vê flores, percebe a chegada da primavera e dos primeiros brotos lá ao longe que surgem ameaçando florescer em breve. Tudo é uma questão de perspectiva. No meu caso, essa é uma mudança mais do que esperada: ela traz consigo muito mais do que uma mudança de endereço, e me oferece a possibilidade de crescer em uma escala jamais imaginada por mim até então. O preço dela? Deixar de lado tudo o que foi construído e começar outra vez, sabendo que o que é duradouro vai permanecer, e o que era apenas para aquele tempo aos poucos vai esmaecendo como uma pintura que desbota e de repente já não se enxerga mais o desenho original. É assim a vida, e esse processo faz parte. Encerrando este ciclo, percebo nas palavras dos que me conhecem mais de perto que a coragem que preciso para seguir vem sendo ventilada através de cada coração que se abre para me abençoar. Afinal de contas, mudar pode ser muito promissor, mas quem já se dispôs a fazer uma mudança grande sem ter nem um pouco de medo do que aconteceria a seguir? Me consola lembrar que Jesus, mesmo sabendo porque tinha nascido, quando se deu conta de que o momento da cruz se aproximava, suou sangue e chorou em agonia pedindo a Deus que se possível fosse trocado aquele cálice. Me alegra também ver que, depois de três momentos íntimos de total entrega a Deus, Jesus simplesmente alinhou corpo, alma e espírito e seguiu para cumprir o Seu propósito de vida. Isso me encoraja porque posso eu também chorar e estar agora em ansiedade, mas apresentando de modo honesto em oração aquilo que eu sinto, Deus vai me ajudando a derrubar as barreiras e vai me dando a certeza de que o meu lugar já é nesta próxima estação. Portanto, malas prontas, bilhete na mão e olhos fixos no horizonte, sigo grata pelo que passou, mas com passos decididos rumo ao sol, às flores e frutos desse novo amanhecer.

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