sexta-feira, 22 de março de 2019

Perguntar, perguntar e perguntar...

Outro dia, eu fui levar um pacote para uma moça que mora há anos na minha cidade e que é, por coincidência, amiga de uma das minhas amigas mais antigas na vida, e que conheci na infância em São Paulo, com quem convivo até hoje. Passei por lá porque ela precisava de fraldas de pano para seu filho e a minha amiga, quando eu fui ao Brasil, me deu um pacote para eu trazer, e lá fui eu conhecer a moça de quem ouvi falar tanto, mas não tinha tido a oportunidade ainda de falar. Cheguei lá, começamos a conversar e eu perguntei como elas se conheceram... papo vai, papo vem, comentamos sobre coisas atuais da vida dessa amiga em comum, até que eu lancei a seguinte frase "seria bom que ela reavaliasse essa relação..." e a moça nem me deixou terminar, e começou a falar de algo que não era o que eu ia dizer, e que sinceramente me surpreendeu profundamente, visto que o que ela estava dizendo não tinha nada a ver com o que eu ouvia da boca da minha própria amiga... disfarcei, e fiquei pensando como é que eu não tinha visto aquilo, ou o que exatamente estaria acontecendo para que eu não tivesse notado que a minha amiga querida andava em sérios apuros... decidi não continuar a conversa quando ela acabou de falar, explicando que estava atrasada (o que era verdade) e seguindo meu caminho, mas muito confusa. Como raios aquilo estava acontecendo e eu não tinha percebido?
Meu coração se entristeceu. Eu orei a Deus pedindo sabedoria para lidar com aquilo porque meu coração doía verdadeiramente com a possibilidade de saber que minha amiga estava em uma relação tóxica, prejudicial e doente com seu marido (foi isso que a amiga disse ao final das contas) e que eu não tinha, mesmo depois de anos vivendo isso e convivendo com gente com o mesmo problema, notado nenhum sinal... afinal, pra que tinha servido então tanto sofrimento e dor meu se não fosse pra me deixar sensível às pessoas ao meu redor e ajudá-las? Enfim, me acalmei e decidi então chamá-la para conversar. Mandei uma mensagem pedindo pra que quando ela estivesse mais calma que me chamasse, assim eu não deixava o assunto morrer, mas ao mesmo tempo, eu tinha condição de processar e sentir o que Deus queria que fosse feito.
Horas depois ela me chama e eu só perguntei como ia o casamento dela (coisa que ela não estranhou porque volta e meia eu pergunto isso, então não era bem uma novidade), e a resposta foi só um "bem". Aquilo me assustou mais e eu comentei com ela que fiquei preocupada, e que entenderia se ela não quisesse falar... e ela me disse que o casamento vai bem, e que como todo relacionamento tem altos e baixos, mas que o que realmente estava acontecendo era que essa amiga dela tinha um padrão diferente sobre relacionamentos amorosos, que não era o seu. Isso não só me tranquilizou como me fez pensar em como é importante a gente se preservar muitas vezes, porque mesmo quando a pessoa é bem intencionada, nem sempre consegue ser isenta ou deixar de lado o seu padrão para avaliar a relação do outro dentro do contexto do outro.
Hoje recebi novidades da minha irmã por mensagem, e ela comentou ali os altos e baixos da relação dela com o marido, e eu na hora me lembrei do ocorrido anterior. E comentei com ela o que eu tinha passado, e como foi importante entender que pra quem está de fora é mais difícil de realmente entender o contexto alheio, e como é delicada essa atitude de querer interferir. Isso não significa que devemos simplesmente não nos importarmos ou fingir que nada está acontecendo quando vemos algo de realmente errado, mas pra mim, fica reforçado o aprendizado de que pra não correr o risco de julgar a pessoa ou a situação com um peso maior ou menor do que o real, é importante perguntar, procurar se colocar no lugar do outro, e orar, pedindo à Deus que o Seu Santo Espírito nos guie de modo que possamos ajudar e não complicar as coisas. Neste caso, se eu tivesse seguido a postura daquela amiga da minha amiga, eu teria sido pesada, e teria acrescentado mais um problema a uma situação que ela está vivendo que já é complicada. Até porque, como saber a dor do outro sem calçar os seus sapatos?

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