segunda-feira, 24 de junho de 2019

Falar a mesma língua

Desde que a gente nasce, a gente é ensinado a falar. Mesmo pessoas surdas aprendem a "falar" em libras, a língua dos sinais. Ou seja, uma das coisas mais básicas e fundamentais da vida do ser humano é a habilidade de se comunicar. A comunicação proporciona não só a ligação mais imediata entre as pessoas, como também traz para a gente o sentimento de pertencimento em determinado contexto. Isso quer dizer que quando uma pessoa, mesmo tendo a habilidade de falar, não consegue se comunicar com o outro, a identificação entre os dois indivíduos fica prejudicada, e por isso é mais difícil a interação entre eles, e claro, mais ainda complicado promover situações em que uma pessoa tenha empatia pela outra. Como comunidade, eu creio que a comunicação é um elemento fundamental para a base de cada sociedade. Então, leis, regras e convenções sociais são criadas para mediar as relações e são transmitidas através da comunicação vigente local. Sem essa habilidade de se comunicar com aquele grupo, eu acho praticamente impossível que alguém se sinta parte dele. Por causa disso, eu entendo que uma das coisas mais delicadas ao decidir mudar de país é o abraçar a linguagem do seu local de destino. E quando eu falo sobre comunicação, claro que tem a ver com a língua/ idioma, mas é muito mais do que isso. Ouvir, falar e saber entender as coisas dentro do contexto apropriado é essencial para que a gente consiga se sentir integrado e participante daquela nova sociedade na qual a gente pretende se inserir. Estudar o idioma é bom? Não! Estudar o novo idioma é básico; conhecer a língua local é de importância vital. Mas é só o idioma que precisamos conhecer? Em absoluto! Mais do que o grupo de palavras usadas por aquelas pessoas, cabe entender como elas entendem cada palavra, e como elas valorizam ou não cada frase, sentimento e pensamento sobre o que está ao redor. Parece bobagem, mas dizer para um italiano que pizza é uma coisa ruim é, por incrível que pareça, quase uma heresia mesmo. Isso porque para o italiano em geral, a pizza não é só comida, mas é principalmente tradição, lembrança da própria história como pessoa, como família e como nação. Aliás, a culinária para o italiano é parte da alma dele. Então, reclamar da culinária na Itália tem um peso muito maior do que por exemplo falar mal do tal "fish and chips" na Irlanda, onde nem todo mundo é apaixonado assim pela comida local. Entender isso é, na minha visão, uma chave poderosa para conseguir se inserir em um novo contexto. Se pensarmos sobre como Jesus se comunicava, o que Ele mais adotava para ensinar alguma coisa eram as parábolas. Por que essa escolha? Simples: porque além de usar obviamente palavras conhecidas dos Seus ouvintes, Ele usava situações que para quem estava escutando a história, eram coisas cotidianas e fáceis de se identificar. Sem isso, certamente Ele muitos dos Seus ensinamentos teriam se perdido. Ou seja, Jesus mesmo, que era totalmente Deus mas totalmente homem, usava como estratégia de comunicação coisas que não faziam sentido exatamente para Ele, mas que para quem ouviria a história não ficariam dúvidas sobre o que estava sendo transmitido. Mudar de nível na vida, de país, de emprego, e de tantas outras coisas que podem ser mudadas, exige mudança de entendimento e de expressão da gente. E é fácil de entender: alguém contrataria para o cargo de presidente de uma grande empresa uma pessoa que pensa, entende e se expressa como um estagiário? Com certeza não! E com isso não falo só sobre as palavras usadas (que certamente serão outras), mas a mentalidade e a visão de um presidente são muito mais abertas e alargadas do que a da maioria das pessoas; a postura que esse presidente tem diante das circunstâncias não pode ser a mesma que a de um funcionário de base; a disposição e a habilidade de entender a cultura da empresa e de seus clientes e de usá-la a favor de si mesmo e da companhia são muito mais apuradas do que as de qualquer funcionário mediano. Faz sentido pra você isso? Se não faz, repense os seus conceitos. Reflita sobre o que você tem vivido na sua vida e considere se realmente você vive como você gostaria, e se você é quem você sonhou se tornar. Se o seu imaginário não é um rascunho limitado do que você vive hoje, pare e faça novas experiências. Questione-se sobre como você tem se comunicado consigo mesmo e com o seu próximo. Pense sinceramente se você tem tido disposição de se inserir no grupo com o qual gostaria de conviver, se realmente você tem "falado a mesma língua" dele, e se isso não acontece, o que você tem feito para mudar essa realidade. Para o meu momento atual, aprender a falar a língua é uma questão de sobrevivência. Desde aprender a comprar pão até poder escolher um plano de celular, ou estabelecer conexão com alguém novo, sem que eu me abra para conhecer o idioma e também a cultura e o contexto, será praticamente impossível que eu consiga criar para mim mesma uma vida bem sucedida neste novo país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário