Cada dia mais me convenço de que as pessoas em geral (eu inclusa) tem uma visão bem distorcida do que se tem controle e do que não se tem. Pior: acho ainda que a gente se ilude demais em relação ao que a gente tenta controlar (com ou sem sucesso) e o que a gente aceita não ter controle (devendo ou não aceitar).
A Bíblia fala em Gênesis 1 que o homem foi criado para subjugar a criação de Deus, mais especificamente as demais criaturas, excluindo os seus semelhantes (ou seja, o outro homem/ mulher). Isso porque nem Deus, em Sua total soberania, procura controlar o ser humano. A prova disso é o direito de escolha que foi conferido a cada um de nós. A Bíblia menciona ainda em outro trecho que o homem que sabe controlar a si mesmo é mais forte e vencedor do que um homem que conquista e subjuga toda uma cidade no poder da espada. Com essas duas indicações, não fica difícil concluir que cabe a cada um de nós controlar os nossos recursos (naturais ou fabricados) e à nós mesmos. E só.
Mas nós, seres humanos mortais e falhos, mesmo tendo consciência da nossa impermanência, das nossas falhas e limitações, ainda que inconscientemente tentamos manter tudo aquilo que não nos compete controlar sob o domínio das nossas mãos. Por quê? Bom, não sei direito, mas assim que descobrir eu prometo compartilhar isso por aqui também...
Exagero? De jeito nenhum! E eu explico como chego à minha conclusão: o que é uma expectativa sobre o outro senão a tentativa de controlar a reação alheia dentro de uma determinada circunstância? Ou, o que seria a manipulação senão um golpe sujo para conduzir o outro à concluir o que interessa para si mesmo? Ou ainda, o que é encerrar uma conversa quando o assunto não te interessa mais (além de infantilidade)? Isso tudo que eu mencionei é fácil de tentar fazer, e quando nos distraímos, lá estamos tentando de novo uma dessas coisas (ou variações disso para obter do outro aquilo que nós queremos, independente se o outro quer ou não). Difícil mesmo é respeitar que o outro é um ser humano isolado da gente, e que, assim como nós, ele tem escolha, e que muitas vezes ele vai escolher diferente de nós, e esse é o grande desafio de amar: continuar acolhendo o outro, mesmo quando ele não faz o que gostaríamos, e/ ou não atende às nossas vontades, necessidades e expectativas.
Ontem eu, sem perceber, por conta de uma situação que me magoou, acabei tentando manipular os sentimentos de alguém que amo, e com isso, machuquei ele ainda mais do que a própria situação já tinha feito. E isso, quando me dei conta, doeu demais. E doeu porque quando eu era manipulada no passado, eu na hora me sentia culpada, mas depois eu me sentia traída ou enganada, e fragilizada porque aquela manipulação colocou em mim um peso que não era meu, e eu não gostaria jamais de fazer com quem outra pessoa passasse pelo que eu passei (conscientemente pelo menos). Mas, depois de ter vivido a situação que originou a mágoa em mim, eu tinha uma escolha a fazer: abraçar o outro, mesmo tendo agido fora do que eu esperava; ou me entristecer, abraçar a mágoa e com ela desenhar um discurso de superioridade que, no fim, tinha o sutil objetivo de fazê-lo se sentir mal por como ele havia lidado com a situação. E o que eu fiz? Pois é... infelizmente, sem me dar conta, eu escolhi a segunda opção. Pior: só me dei conta depois de ter despejado o discurso pronto e de ter visto o quanto custou não ter escolhido a primeira opção.
Diante da constatação, chorei (de tristeza, e não para provocar uma comoção) por causa do que fiz, pedi perdão, fui perdoada e fomos adiante, superando mais esse obstáculo. Para ele, espero que com o tempo não fique nem a memória do ocorrido; para mim, espero que dure para sempre o aprendizado.
O que aprendi com isso? Que diante de praticamente qualquer situação, podemos escolher amar ou reagir, e que a nossa escolha pode até se basear na circunstância mas, de verdade, isso é apenas reagir, e reação é para seres irracionais. Eu, como ser humano falho que sou, mas com a confiança de que o amor sempre é a melhor escolha, sei que o amor quebra qualquer barreira, desmonta qualquer ataque e desmoraliza qualquer rebelião, e que por isso, ele sempre será mais forte do que o medo, e sempre superará tudo em nossas vidas se permitirmos. Mas para isso é preciso buscar controlar aquilo que eu posso controlar: meus pensamentos, meus sentimentos, meus princípios interiores, meus valores, minhas atitudes, minhas expectativas em relação à tudo e os meus recursos. E claro, é preciso deixar livre aquilo que nasceu para não ser controlado: o meu próximo!
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