segunda-feira, 24 de junho de 2019

Grandes mudanças, pequenos passos = virando a casaca

Mudar-se para outro país sempre é uma experiência incrível. Cabe a cada um de nós decidir se vai ser incrivelmente dolorido ou incrivelmente gratificante. Uma grande mudança vem quando avistamos um novo horizonte adiante e pegamos uma estrada que nos leva para esse lugar cheio do novo. Ela pode ser conduzida de diversas formas, mas o mais importante é decidir se você vai conduzi-la ou vai ser conduzida por ela. Parece muito óbvio mas o fato é que a diferença é sutil, e se você não planejar e não fizer um bom acompanhamento do seu projeto, ele tem muita chance de te levar a um lugar de dores, e não de delícias. De modo prático, posso falar um pouquinho da mudança que estou vivendo: há três anos atrás deixei o Brasil para começar uma nova vida como missionária cristã na Itália. Na verdade, o processo começou um ano e meio antes do embarque naquele avião que cruzaria o oceano, mas nada como chegar do outro lado para que o seu plano tome cores reais, que podem se tornar uma versão monótona e bem triste daquilo que você sonhou, ou pode se tornar algo muito mais colorido e bonito do que você poderia imaginar. Saiba que o que define as cores reais do quadro não é a quantidade de dinheiro que você leva com você, ou quantas pessoas estão seguindo a sua caminhada, ou quantos planos você fez ou ainda quão bem montada é a sua estrutura na chegada. O que realmente muda tudo é ser bem honesta consigo mesma em assumir porque você está se dispondo a essa mudança. Conheço cada dia mais mulheres que acompanham seus companheiros, namorados ou maridos em empreitadas que foram sonhadas por ele, e que elas até toparam em ser parte, mas que elas não abraçaram para si, e por isso se perderam de si mesmas facilmente no meio do caminho. Eu decidi vir para a França em meio a um contexto de estabilidade pessoal na Itália. Se eu fosse pensar em tudo o que vivi até conquistar o que eu estava vivendo, mesmo que aparentando pouco, eu poderia escrever um livro e contar diversos desafios vencidos e situações inusitadas vividas naqueles três anos no país da bota. Mas então por que eu vim? Porque eu entendi que para ir além, eu precisaria topar em dar um passo mais ousado, e para isso eu tinha que começar de novo. E começar outra vez no mesmo lugar, com as mesmas pessoas, é praticamente inviável. Quando eu ouço essa pergunta, para a maioria eu explico que decidi recomeçar e basta. Para os inconformados de plantão que me perguntam porque na França, falo sobre o meu namorado. Mas a verdade é que nem uma coisa nem outra bastam para descrever realmente porque eu decidi adotar esse lugar como a minha casa daqui em diante na minha mente e no meu coração. Sendo uma italiana apaixonada pelo seu país (sim, eu nasci no Brasil mas há muito tempo eu acho que foi só mesmo uma variação geográfica para me trazer equilíbrio em diversos sentidos no meu caráter), outro dia ri por ter ouvido uma amiga dizer que eu "virei a casaca" e agora só falo da França e de aprender a língua e os costumes franceses. Mal sabe ela que eu sou fiel imitadora do apóstolo Paulo neste sentido, me apropriando dos usos e costumes de onde eu estiver para poder viver em mais profundidades os valores e experiências que o Evangelho de Cristo me propõe. Cultura é sim muito importante, mas só quando ela agrega aprendizado, e não quando ela te prende ou escraviza. É quando a cultura te impede de ser livre e de viver a vida de Cristo onde você está, é importante deixá-la de lado, mesmo que seja a cultura que você aprendeu e viveu desde que veio ao mundo. Não por ingratidão, mas por uma questão de sobrevivência, vai por mim: a melhor coisa é "virar a casaca". Abra mão do que você conhece. Ouça mais, pergunte muito mais, corra o risco de parecer exatamente aquilo que você é neste novo contexto: ignorante. Afinal de contas, ninguém nasceu sabendo, não é mesmo ? E o que de fato transforma uma informação em experiência é o vivenciar daquela situação. Outro dia, ouvi a seguinte frase: ser imigrante é só uma questão de em que parte da linha do tempo você está. Quer um exemplo? Os italianos já foram imigrantes no Brasil, assim como os ingleses colonizaram os Estados Unidos. Mas hoje, quando um brasileiro de origem italiana vai para a Itália reconstruir a vida, se formos pensar, ele não está fazendo nada além de voltar para casa. Ou seja, territorialidade e pertencimento é uma questão de disposição mental e ponto de vista. E o orgulho das suas raizes culturais, que pode ser muito bonito (em especial se ele não nasceu quando você saiu do seu país de nascimento), pode ser também a sua passagem para a depressão e para a morte. E não, definitivamente não é um exagero. A coisa mais comum é ver pessoas que, por não terem objetivos bem definidos e nem abrirem mão do passado, entram em depressão e perdem muito tempo precioso das suas vidas até se recuperarem e poderem seguir a vida no seu máximo. Consciente disso, o meu quadro está passando por uma mudança, e onde estava pintado de verde, agora surge a força do azul, virando a minha casaca, trocando as minhas vestes e me preparando para viver em plenitude tudo aquilo que eu puder plantar e colher nessa nova estação.

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