Nestes dias eu tive uma conversa em casa sobre muitas coisas importantes, mas uma delas era divisão de tarefas e participação na manutenção do lar. Parece uma coisa simples mas, em alguns casos, pode ser um desafio bem mais intenso do que se pode imaginar... para mim, tem sido uma fase de aprendizados e descobertas, e acima de tudo, de superação.
Uma das coisas que decidi há anos atrás é que, morando em algum lugar, eu preciso ser responsável também pela manutenção do local. É super óbvio para alguns, mas para mim, por muito tempo, não foi nem cogitado.
Deixando de lado por hora a história e os motivos pelos quais a coisa toda é novidade para mim, o que posso dizer é que tenho superado barreiras tão pequenas, mas ao mesmo tempo, tão grandes, como: nestes dias eu fiz a primeira omelete da minha vida. Sim, com trinta e oito anos de vida e uma filha com dezoito anos (e uma neta com seis meses) eu jamais tinha feito um omelete antes (aliás, é um omelete ou uma omelete?). E nestes dias me deu vontade de tentar e eu fui lá e fiz.
Ah, mas uma omelete? Que coisa mais boba! Então... pode parecer para você, mas para mim não é. Aliás, cozinhar para mim por muito tempo foi um monstro, um tabu, um terror que só de pensar na possibilidade de alguém além de mim e da minha filha comendo o que eu fazia me trazia pesadelos dos mais intensos. Por isso, toda vez que eu consigo executar algo novo que esteja em um padrão aceitável para comer eu comemoro como se tivesse feito um gol na Copa do Mundo.
Agora, o mais importante que aprendi não foi a fazer omelete, mas o processo pelo qual passei para chegar nisso, e é isso que eu quero compartilhar aqui.
Um dia desses eu estava com bastante fome, e precisava cozinhar algo para almoçar. Eu pensei no que tinha em casa que poderia ser usado para montar uma refeição e lembrei que tinha apenas um ovo. Curioso que na hora não me ocorreu cozinhar o dito cujo, como já comi milhares de vezes, mas me veio a ideia de fazer omelete. Mas, como eu faria se eu não sabia como? Eu me lembrei que uma grande amiga tinha me feito um vídeo outro dia explicando como se faz a iguaria (sim, ela realmente fez isso, e eu realmente assisti, e esqueci como faz), mas como eu apaguei o vídeo com outros que estavam no celular, já não tinha mais a informação disponível. Em casa não temos livros de receitas (e mesmo que existissem, seriam em francês, o que cá para nós, neste momento da vida não resolveria muito a vida), e com isso sobrou mesmo ir buscar a informação na internet. Ah, a conexão de internet...
Bom, voltando aos relatos dos últimos dias, eu ainda estou sem internet. Isso significa que eu precisava ser criativa para obter a informação necessária. Como eu já estava voltando para casa, a minha opção era dar uma passadinha na biblioteca que fica há uns duzentos metros daqui para conectar-me e com isso poder assistir a um vídeo de instruções. E assim eu fiz.
Chegando lá, encontrei a biblioteca fechada... e pensei que talvez não fosse mesmo o dia de fazer omelete. Mas, de repente, me veio uma luz: e se eu tentasse verificar se a conexão com o wi-fi funciona mesmo estando na porta da biblioteca? Talvez isso funcionaria e eu poderia então assistir um vídeo e voltar feliz para casa para tentar o meu prato desejado. E não é que funcionou?
Bom, voltei para casa, peguei o ovo que tinha lá e ousei: os dois videos que eu assisti recomendavam o uso de mais de um ovo, mas eu só tinha um, então decidi rechear a omelete para fazer render (e olha que nem tinha esse tipo de dica nos vídeos que vi). Consegui o feito, e comi feliz uma omelete com queijo, atum e azeitona. Foi a melhor coisa que eu comi na minha vida? Gastronomicamente não, até porque percebi que para usar atum neste caso, é necessário escolher um que seja conservado em água (acredite em mim, fica bem gorduroso quando a conserva é em óleo). Mas mentalmente, foi uma vitória.
Para mim, a omelete significa a vitória sobre a passividade, sobre o conformismo e sobre o passado. Mais do que isso, conseguir executar e comer a omelete significa aceitar que o aprendizado acontece em etapas, mas que principalmente no começo, as coisas não são necessariamente fáceis, e tudo bem. Ter chegado ao fim dessa experiência me fez ver que sim, com criatividade e motivação é possível superar muitos obstáculos, e muito pouco é necessário para construir algo que realmente tenha valor. A omelete é o símbolo de uma nova fase, onde os recursos são escassos, mas não existe pobreza, porque a mente está se voltando para procurar soluções, e o coração, cheio de confiança de que já sou suprida no que preciso, me permite ter a tranquilidade de saber que tem solução e que vai dar certo, é só uma questão de tempo.
Qual será a minha próxima omelete? Não sei, mas o importante é que, seja ela qual for, vai acontecer!
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