Hoje é o dia do aniversário de uma amiga maravilhosa, tão especial que nos consideramos irmãs (bom, esse título tem um motivo adicional, que é o fato dela ter se tornado tão filha da minha mãe ou mais do que eu por diversas razões). Ela é a minha mana preta, e por causa do carinho que temos uma pela outra, fiz questão de mandar mensagem para ela exigindo um contato por vídeo no dia de hoje. Portanto, as seis da manhã (do horário dela) recebi a sua mensagem pedindo para eu chamar e assim conversamos longamente, atravessando o oceano e o fuso horário nesta manhã que para mim foi mais do que surpreendente.
Quando nos conhecemos, eu tinha nove ou dez anos, e ela uns vinte e três mais ou menos. Ou seja, ela tinha idade quase para ser minha mãe, mas ao mesmo tempo era bem mais nova do que a minha mãe, e acabou de certo modo criando com ela essa relação de filha. Ela morava em um bairro bem distante de onde eu morava, que ficava pertinho da igreja que frequentavamos, então volta e meia ela vinha na sexta-feira para casa e lá dormia, voltando para a sua própria casa só no domingo de noite.
Ela, uma mulher de voz maravilhosa, viveu uma vida estranha. Ela teve uma mãe super guerreira, que foi exemplo de superação, mas ao mesmo tempo, não ensinou a filha a pescar e de certo modo, gerou nela uma dependência emocional e econômica que, de início, não funcionava para nenhuma das duas e gerou grandes mágoas, depois gerou afastamento, e por fim acabou gerando aproximação, até que vieram tempos muito difíceis, e essa minha mana teve que fazer uma cirurgia para substituir o seu fêmur por uma prótese. Anos depois, relacionamento curado, a mãe dela faleceu, mas a história dela não tinha avançado muito em vários aspectos.
Me lembro que ela era aquela pessoa que sempre era reticente, e apesar de ter uma série de ideias e talentos, ela não era resiliente, e acabou desistindo meio cedo de muitas coisas. Hoje ela é uma mulher de sucesso (ainda não financeiro mas é questão de tempo) mas porque teve que deixar para trás muita coisa que ela carregou por décadas, e que a prendiam e internamente a impediam de ir além.
Na nossa relação, tivemos momentos de proximidade e momentos de distância. Na adolescência convivemos bastante; quando eu engravidei ela não veio me ver, e nem quando eu casei. Por outro lado, quando a minha filha estava para completar um ano, nos vimos, e ela que enfrentava dificuldades em relação à crianças, teve uma porta aberta e foi curada com aquela nova relação. Mais tarde, ela acompanhou meu divórcio (ela já morava com a minha mãe neste tempo) e foi babá da minha filha. Nesse tempo, eu tinha uma carreira em ascensão, e falávamos de muitas coisas, e ela me dizia que me admirava pela minha determinação e pela minha força e capacidade de realizar coisas. Ela, por outro lado, tinha de mim a admiração por ser tão sensível à necessidade de se relacionar com Deus e com as pessoas. Aprendemos muito uma com a outra.
Do que ela vivia neste tempo? Basicamente ela foi babá, e também fez salgadinhos para vender (coxinha, risolis, kibe e coisas do tipo) mas nunca se sentiu capacitada porque ela não se sentia à altura do talento culinário da sua mãe.
Eu por outro lado, não sabia fritar um ovo (e não é exagero: quem me ensinou a fritar ovos foi a minha filha quando ela tinha seis anos de idade... Com quem ela aprendeu eu não sei, mas ela, motivada pela vontade de comer um ovo frito, me ensinou). Aliás, eu nessa coisa de cuidar de casa era terrível, verdadeiramente uma negação, e isso aconteceu porque eu cria nas palavras que ouvi por anos de que eu não servia para fazer aquilo e que eu jamais aprenderia mesmo se tentasse muito.
Os anos se passaram, e aconteceram muitas coisas, tanto na vida dela como na minha. Hoje, ela completa 53 anos, e eu, com quase 39, falamos não do passado, e menos ainda do que não dá certo. Hoje falamos do que temos vivido de bom, e curiosamente, ela falou sobre o que ela mais pensa e faz nos últimos tempos: empreender... E eu comentei com ela sobre o prato adaptado que fiz ontem aqui em casa, e ela curtiu tanto que me pediu a receita. E eu ri.
Naquele momento, me passou um filme pela cabeça... Eu me lembrei de tudo o que vivemos, e de como anos atrás estávamos, de alguma forma, em posições invertidas. Agradeci secretamente a Deus porque, na minha visão, as duas melhoraram com o tempo. Mas ri demais, e compartilhei com ela o absurdo da situação que era ver a ex-bancária tendo lições básicas de fluxo de caixa para empresas, enquanto a filha da cozinheira e empresária do ramo de alimentos me pedia uma receita de coxinhas... Só Deus para promover algo assim nas nossas vidas.
A conclusão que chego é que a gente não sabe realmente nada. Concluo ainda que tudo pode mudar, seja por causa de um acontecimento externo, e por isso tudo muda em um instante; seja por um processo interno, e através do tempo a pessoa pode sim mudar a sua vida, a sua história e o seu legado.
No fundo, a gente não tem certeza de nada, e isso é bom, até porque isso nos dá a chance de viver coisas absolutamente incríveis e surpreendentes... E nos permite sonhar com qualquer coisa, por mais inalcançável que pareça. Porque na verdade, tudo é possível ao que crê. Basta começar a agir, continuar se movimentando, e em algum momento, será possível ver o resultado.
quinta-feira, 27 de junho de 2019
Tudo pode mudar. Não duvide disso!
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