sexta-feira, 5 de julho de 2019

A minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...

Quem nunca acordou de manhã saudosista, cheio de passado na alma e triste pra caramba com a realidade que vive? Quem nunca olhou em volta e, num ímpeto de furia por causa da frustração do dia a dia, murmurou do que construiu e chorou porque um dia a sua vida mudou? Quem nunca repensou uma decisão na vida?
Bom, honestamente, eu acho que a maioria das pessoas (e eu infelizmente me incluo nisso) é muito sensível em relação à frustrações. Falo isso porque, mesmo tendo aprendido muito nos últimos anos a me frustrar e a superar as situações que não estão no meu controle (que por sinal são quase todas) eu ainda me abalo, xingo (sim, é feio, eu sei, e eu quero sinceramente chegar no dia em que isso não seja mais uma reação minha), e tenho vontade de chorar. E isso não quer dizer necessariamente as coisas estejam ruins ou fora do lugar.
Ontem aconteceu uma coisa que me deu uma boa dose de realidade. Mas antes de contar o que rolou, acho que vale uma explicação contextual: eu tenho o hábito de comer gelo independente do clima, e quando eu não como gelo eu sinto muita falta. Já me disseram que isso pode ser sintoma de anemia, que isso pode ser uma compulsão, e eu não sei bem o que é, e não é relevante no momento, mas o que sei é que, com o calor intenso que vem fazendo nos últimos dias na região em que moro, e como aqui em casa não tinha gelo e nem forma pra fazer, eu decidi sair de casa para comprar um pacote, assim eu poderia aliviar essa tensão do calor que me abatia.
Antes de sair de casa, para evitar viagens perdidas e frustrações, eu pesquisei na internet e vi um mercado de congelados até bem famoso que tinha o produto, e lá fui eu comprar. Fica há uns dois quilômetros de casa, e eu fui à pé, o que não costuma ser um problema, mas pra quem pretendia comprar gelo não era a melhor situação. Então levei comigo uma mochila térmica para garantir que a delícia que me aliviaria em forma de cubinhos resistisse ao trajeto até em casa. E lá fui eu, planejada e determinada a vencer aquela batalha. Só que não foi isso que aconteceu...
Quando eu cheguei no mercado lá (e veja bem, é um mercado de congelados), simplesmente não tinha gelo. Eu perguntei para os funcionários e eles me diseeram que o fornecedor fechou e que a rede não venderia mais gelo dali em diante. E meu mundo caiu...
Sai dali e a minha vontade foi chorar. Para não fazer isso no meio da rua, eu segurei, mas mais adiante na minha caminhada de retorno eu murmurei, reclamando desse país de m* que não tem um lugar decente que vende gelo... Poucos passos depois, me vejo aquela voz me lembrando que na Itália também não vendiam, e que tanto lá como no Brasil eu sempre fazia gelo em casa... Então, o saudosismo que me invadiu na verdade era falso, e que o problema não é a França, ou qualquer outro lugar onde vivi. O problema estava dentro de mim, na maneira como eu estava enfrentando aquele pequeno obstáculo que eu deveria superar.
Me caiu a ficha de que, naquele momento, eu estava agindo loucamente, não porque estava frustrada (que pode acontecer) mas porque o problema não era o outro, mas a maneira como eu estava dentro de mim. E isso me fez entender que o buraco era bem mais embaixo, e que eu precisava mudar a minha visão sobre as circunstâncias.
Cheguei em casa e conversei com o meu namorado, que pacientemente me ouviu, e me ajudou a ver que o maior problema era que eu não tinha as rédeas da minha vida nas minhas mãos. Ele já tinha visto há tempos, e vem me falando sobre isso, mas eu não tinha notado os impactos profundos que aquilo estava me causando.
Eu entendi que essa reação foi, ao mesmo tempo, uma expressão do cansaço interior e um sinal de alerta, de que é urgente mudar essa situação. Mais do que nunca, me cabia tomar uma atitude diferente, ou no caso igual: trazer à memória o que me traz esperança, e colocar sob a perspectiva correta o que estava de fato acontecendo.
Por sinal, nestes dias eu ouvi uma explicação bem interessante: você sabia que quando você se lembra de boas coisas que já te aconteceram, ou se recorda de conquistas passadas, isso te traz quimicamente uma injeção de serotonina, um neurotransmissor que o corpo humano precisa para regular o sono, o humor, o apetite e tantas outras coisas importantes dentro de nós? Pois é, os autores da Bíblia já mencionavam aquilo que precisamos...
Naquele momento, me sentei, e me lembrei do que já vivi, do que já conquistei, do que já tive o privilégio de testemunhar, e meu coração se encheu de novas atitudes. Com isso, parei de procrastinar o início de um projeto que eu já tinha há meses, e dei o primeiro passo, vencendo a timidez e dando um primeiro passo em direção à conquistar mais do que realização profissional: liberdade em relação à certos julgamentos, opiniões e críticas. E como isso foi gostoso, e como me trouxe um novo olhar para cada uma das coisas que estavam acontecendo... 
Por fim, depois do almoço, eu decidi ir comprar um pote de sorvete no mercado aqui perto, e lá estando, me lembrei de uma loja de artigos diversos logo na frente. Entrei lá, andei um pouco e tentei achar formas de gelo para comprar. Não as encontrando, comecei a sair da loja, mas agora tranquila por saber que não seria isso a me abalar, quando a moça do balcão me perguntou o que eu precisava. Como o meu francês ainda é meio limitado em termos de vocabulário, eu não sabia o nome mas expliquei mais ou menos o que era, e ela me levou então até as maravilhosas "bac de glaçon", que por menos de dois euros fazem a minha alegria todos os dias!!!

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