Isso é definitivamente graça de Deus, porque para sermos pessoas inteiras e curadas, é necessário muitas vezes assumirmos que existe sim alguma coisa que nos incomoda e que nos faz sofrer. E mais: é necessário perdoar.
Como nem sempre somos rápidos nisso (aliás, percebo o quanto sou lenta em perdoar e deixar para trás certas coisas), vejo então que Deus nos permite que por um tempo, determinada coisa simplesmente não aconteça, de modo que possamos ter um fôlego para que, com um novo ânimo, possamos finalmente viver novamente aquela situação para então superá-la de uma vez por todas.
O curioso é que eu tenho visto que, embora tenha aprendido a aproveitar melhor as segundas chances que Deus tem colocado diante de mim, eu ainda tenho dificuldade em uma coisa: me perdoar.
Explico: ontem revivi um coisa que me magoou profundamente no passado, e ao invés de gritar e simplesmente devolver a agressão, eu calei, refleti e chorei, e orei, porque entendi que era uma oportunidade de vencer aquilo que já me fez tão mal. Até porque, só me faz mal porque eu permito que me atinja.
O fato é que chorei, orei, refleti, acordei durante a noite, ensaiei discurso, orei de novo e de novo, dormi, sonhei... Acordei e veio um pedido inesperado de perdão. E eu chorei, mas dessa vez de alívio por saber que as coisas estão no lugar e que tudo está bem.
O que me chocou foi que, depois de tudo isso, notei que ainda falta algo: me perdoar. Afinal de contas, uma das coisas que mais me fez sofrer nesta noite foi o fato de que eu entendi que a ofensa foi gerada por uma coisa mal resolvida dentro do outro... Só que mesmo assim, eu permiti que aquilo acontecesse novamente. E pra mim, agora, o que mais me frustra é saber que ainda não sei me posicionar em relação a este tipo de situação, potencialmente permitindo que coisas do tipo aconteçam constantemente.
Hoje eu entendo que certas coisas podem acontecer, e que não é me afastando dos outros que a gente consegue uma vida saudável. Na verdade, o segredo da vida equilibrada, a meu ver, está ligado à saber como lidar com aquilo que as pessoas procuram colocar nas suas costas.
Sendo mais clara: se uma pessoa está frustrada naquele dia e te trata mal por isso (quem nunca?) então não adianta dizer que eu vou me afastar daquela pessoa... Ate porque sempre vai ter alguém que em um dia ruim está frustrado e pode acabar descontando em quem está ao redor (inclusive eu mesma faço isso infelizmente de vez em quando).
Então, o segredo é respirar fundo, olhar a situação com calma e equilíbrio, e ver que aquilo que está sendo feito não tem a ver com você, e talvez (ou provavelmente) nem representa o que a pessoa é, mas a atitude é resultado de uma situação mal resolvida por parte do outro e vc deu o azar de "estar no lugar errado na hora errada", sendo alvo daquela atitude ruim.
Neste caso, uma vez que a gente consegue respirar fundo, olhar para o céu e pedir que Deus nos dê o olhar Dele sobre aquilo, poderemos ver que não tem a ver conosco, e então, podemos agir com base nessa consciência. Isso não quer dizer tentar explicar nada para a pessoa, e nem também aceitar qualquer tipo de atitude ruim consigo mesmo. Quando a gente vê a gente e o outro com o olhar de Deus, a gente sabe respeitar ambos, e educadamente pede licença para o outro e deixa-o na ofensa sozinho.
Mas não... Quando a gente não tem essa serenidade, então abraçamos a ofensa, e aceitamos aquela semente da discórdia e ajudamos a plantá-la também no nosso coração, transformando o que deveria ser apenas um ato isolado em uma bola de neve de mágoas e dificuldades de relacionamento.
Então, a quem cabe mudar ou interromper este ciclo?
Não podemos controlar ou mudar o outro. Demorei para entender isso. Mas podemos não levar adiante uma mensagem ruim, uma atitude ruim, uma ideia ruim... E isso sim é nossa responsabilidade.
Como fazer isso? As vezes ouvindo o que foi dito e deixando passar (mas internamente orando e perdoando a pessoa), as vezes procurando mostrar que aquela atitude não combina com o que a pessoa é de bom e portanto não é legal, e as vezes, simplesmente pedindo licença e deixando a pessoa sozinha até que ela se acalme e possa conversar baseada no que ela é, e não na frustração que a dominou.
Mas essa escolha não é do outro: ela é nossa, e depende de muito amor próprio. Isso porque, para saber respeitar o tempo da pessoa, separando o que é fruto da frustração dela e o que é realmente fato em relação à sua pessoa, é importante demais se conhecer profundamente e se amar (e ser consciente do quando se é amado por Deus) ao ponto de não se abalar com o que se deve fazer... E isso inclui ter a serenidade de deixar a pessoa falando sozinha para o bem de ambas, evitando assim que a ofensa se torne avalanche, e ao mesmo tempo, tendo a segurança de que você não perderá nada com essa atitude (afinal, se a pessoa do outro lado te ama, ela vai entender o que aconteceu quando se acalmar).
Uma vez entendido isso, fica mais fácil agir ao invés de reagir da próxima vez, não é mesmo ?
E sim, eu sei que infelizmente vou precisar de uma próxima vez... Mas já me sinto bem mais preparada e mais tranquila, porque sei que estou evoluindo, e que o espinho que me feria já não fura mais tão profundo a minha alma.
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